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Como as crianças percebem as mudanças: entendendo começos e fins

Mais um final de ano chegando e com ele as tão esperadas… férias! Ou será que não é bem assim? Depende! Sair da rotina para um adulto pode ser algo realmente esperado por muitos, mas, quando os pequenos são o assunto, é preciso um olhar mais cuidadoso. Afinal, como as crianças percebem as mudanças?


O fato é que, para elas, toda mudança gera uma inevitável sensação de insegurança, já que ainda não conseguem compreender exatamente o que está acontecendo quando percebem que a sua “agenda” é outra.


Por isso, com o objetivo de auxiliar os pais a acolherem a criança no período de férias e em outras mudanças de rotina, entendendo o porquê elas podem ficar tão desreguladas, preparamos este artigo completo.

Siga lendo para conferir!


O desenvolvimento infantil segundo Montessori


Quando falamos sobre o desenvolvimento infantil segundo Montessori, estamos falando de premissas que incluem a importância de compreender as fases sensíveis, além do impacto do ambiente e das experiências para o crescimento emocional e cognitivo das crianças.


Os períodos sensíveis são intervalos ao longo do desenvolvimento nos quais a criança está especialmente apta e atraída por um determinado tipo de estímulo ou tarefa. Quando isso acontece, ela se dedica de maneira exclusiva e intensa ao que lhe atrai a atenção.


Não podemos deixar de relembrar que, para Maria Montessori, o brincar é sinônimo de trabalho. A brincadeira é o centro da vida da criança, indo além de uma atividade na qual ela se diverte. É brincando que acontece o desenvolvimento da motricidade, cognição, fala, sentimentos, entre outras habilidades.


Quando os adultos à sua volta têm consciência sobre isso, a criança consegue se desenvolver respeitando se próprio tempo e natureza.


Como lidar com transições e mudanças


É necessário que os pais busquem saber como lidar com transições e mudanças na vida e rotina dos filhos. A abordagem montessoriana ajuda as crianças a entender e lidar com esses momentos, como o início ou o fim de uma fase escolar, mudanças na família ou mesmo alterações pequenas do dia a dia.


Mesmo que esses aprendizados surjam na escola, é importante que a casa seja uma continuação, assim os pequenos se sentem à vontade e mais seguros.


Estímulo à independência e autoconfiança


A independência e a autoconfiança são dois pilares fundamentais da educação montessoriana, sendo características que contribuem para os pequenos lidarem de forma mais positiva com inícios e fins.


Com o método Montessori, o estudante se torna autônomo porque não é sempre que conta com o apoio dos educadores para desenvolver suas habilidades. Em vários momentos, os responsáveis apenas estão por perto para garantir sua segurança, mas a criança “trabalhará” sozinha.


A independência surge a partir do momento em que, ao brincarem sozinhos, aprendem a respeitar seus limites, além de apreciar a própria companhia. Quando ocorre a socialização com os colegas, passam a entender como lidam com as situações, além de saber o que gostam e o que não gostam.


Dessa forma, uma criança autoconfiante tende a enfrentar melhor momentos de incertezas, como uma viagem a um lugar que ela não conhece.


Importância da expressão emocional e comunicação efetiva


Todo fim e todo começo gera, por óbvio, emoções. Por isso, é fundamental que sejam trabalhadas a expressão emocional e a comunicação efetiva, fatores incentivados na metodologia montessoriana.


Quando a criança sabe que pode contar com o apoio dos adultos à sua volta, ela consegue, gradualmente, compreender e nomear os sentimentos e o que os está provocando. É permitido que ela se dê o tempo de sentir o que está sentindo, sem jamais esconder.


Afinal, fingir que o sentimento não existe não o fará desaparecer, só o aumentará. Quando um ano letivo termina, isso pode desencadear tristeza pelo que passou e medo pelo que virá. Em qualquer das situações, é preciso ensinar a criança sobre o que ela está sentindo e, então, aprenderá a lidar com isso.


Como as crianças percebem as mudanças


O início e o fim para a criança não é algo simples como é para um adulto. É um fator realmente importante. Por exemplo, quando encerram uma atividade prazerosa, elas facilmente podem começar a chorar. Não é por conta da tarefa em si, mas, sim, porque elas possuem uma necessidade de compreender o que está acontecendo.


Outro exemplo, se na sua casa há briga a cada vez que a criança vai entrar no banho, não significa, necessariamente, que ela odeie tomar banho. Pode ser apenas o “luto” pela “morte” do momento anterior. Ou seja, a criança tem a sensação de que nunca mais poderá viver aquilo que estava fazendo.


Ela pensa e sente que o outro dia pode não chegar, sendo tomada por incertezas. Isso também explica a resistência de algumas delas a dormir e descansar. Afinal, que mãe, pai ou cuidador já não presenciou um bebê super cansado, se recusando a dormir?


Em relação ao calendário escolar, a criança ainda não tem noção do que exatamente é um ano letivo. Para elas, a realidade é que a vida passará por uma mudança completa de rotina e a sensação é de que, agora, ela vai passar a viver em casa com os pais. Isso pode gerar ansiedade e desregulação emocional, por isso, vale a pena ficar atento aos comportamentos dos pequenos nessa fase.


O papel dos pais e educadores


Os adultos podem e devem usar os princípios montessorianos para apoiar as crianças durante as transições e mudanças. Usar algum instrumento de apoio para isso pode ser interessante. Uma boa dica é o livro infantil “Coisas que Chegam, Coisas que Partem” escrito por Ninfa Parreiras, que possui pequenos poemas que exemplificam diversas formas de chegadas e partidas.


Para amenizar a angústia que as crianças sentem nesses momentos, é recomendado sempre estabelecer uma rotina mais previsível possível, o que inclui ter sequências que se repetem. Permitir que as crianças repitam os brinquedos e as brincadeiras nas férias é um exemplo, já que a repetição reforça que as vivências se repetem, gerando um sentimento de tranquilidade.


Uma dica é, pela manhã, os pais explicarem ao filho ou à filha como será o dia. “Você percebe? Temos um novo dia! Hoje vai ser assim: vamos tomar café, organizar a mochila, irmos na avó, você vai ficar…” Dessa forma, a criança sentirá mais segurança, sabendo o que irá experimentar ao longo do dia.


Isso afasta o medo que ela sente de que aquilo que gosta de fazer acabe de uma hora para outra. Quando a criança muda bastante de rotina sem explicações sobre essas mudanças, vai crescendo dentro dela o sentimento de angústia. Esse estado de alerta tende a fazer com que os pequenos se tornem mais nervosos, estressados e reativos, porque sentem que precisam fugir ou lutar para se proteger durante todo o tempo.


A contagem do tempo é outro aspecto importante a ser considerado. Em crianças menores, medimos o tempo em tamanhos como “tempo grande” e “tempo pequeno”. Conforme crescem, é possível utilizar objetos que auxiliem, como ampulhetas e calendários coloridos.


Algumas formas de falar com a criança são: “Você percebe que a sua escola começou às 13 horas da tarde e terminou às 19 horas da noite?”; “Você percebe que durante o dia temos o sol e durante a noite temos a lua?”; “Você agora tem um tempo para estudar e depois você pode voltar a brincar”.


Em resumo, não é mesmo fácil lidar com as mudanças de rotina para quem tem crianças em casa. Porém, sempre podemos tornar a rotina mais leve para elas — e para nós também.



Dito isso, boa preparação para as férias!



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